Existe uma força mágica e mística chamada ase (axé), sem a qual não pode haver rito. O qual ser bom ou mau. O bom é proveniente das divindades (orisa) e dos antepassados (óku órun), isso não quer dizer que os deuses e os antepassados não fiquem zangados com as pessoas, quando elas não andam corretas, daí se fazer consulta para se ter notícia disso, sua causa e o que fazer para acalmá-los. Na sua essência ele não fazem senão proteger as pessoas.
O ase do mal é também de dois tipos. Um representante pelos ajogun, que são considerados terríveis e destruidores das pessoas, sendo os mais importantes, iku, a morte, arun, a doença, ofó, dano, o prejuízo, a perda, égbá, paralisia, óran, o aborrecimento, o transtorno, a desgraça, epe, a praga, a maldição, a desgraça, ewon, a prisão, a detenção e ese diversas coisas ruins, que perseguem as pessoas.
O outro ase do mal é Ajé, que é a destruição total da pessoa humana .
Os ritos são feitos em cima dessas duas forças, os quais podem começar logo após o nascimento de uma pessoa, a depender de como a criança vem vindo ao mundo ou as circunstâncias em que isso ocorreu. Pode a criança do sexo feminino nascer com o ventre para baixo, aí todo cuidado é pouco, pois a mesma está sob a influência de Iya Mapo, logo os ebo devem ser feitos em função dessa divindade, para a criança ao nascer não se tornar lésbica. Pode nascer abiku (o que nasce para a morte), então os ritos começaram logo com o primeiro banho e água do mesmo.
Também, dependendo de outras circunstâncias, os ritos podem começar com a coisa mais importante e vital do ser humano que é o ori. De um modo geral, ori quer dizer a cabeça, porém dentro do fundamento ori constitui uma parte da cabeça, porque ori é todo o ase que a pessoa tem. Toda força concentrada do corpo se chama ori e sua sede é na cabeça. A nossa divindade está segura em nós mesmos de acordo com a maior ou menor força do nosso ori, isto é, maior ou menor concentração de força que temos, enfim o ase que nós carregamos conosco. O ori de cada pessoa tem potencialidade a felicidade e a desgraça dessa pessoa, o sucesso e o fracasso, tudo que é bom e tudo que é ruim, daí ter sempre que se fortalecer o ori com ebo, chamado bori, que é todo ebo que se faz na cabeça, desde o simples omi tutu (água fria), consta de obi, ou o que for com água fria, com a finalidade de tranqüilizar a pessoa, isto é, esfriar o juízo e a pessoa passar a discernir as coisas, seguindo o caminho certo, inclusive o de procurar fortalecer o ori com outros ebo. A presença de nosso orisa em nós está dependendo do fortalecimento do nosso ori, ele está atrelado a essa força, a esse ase que temos na cabeça, daí quando se vai "fazer o santo" ele é firmado no centro da cabeça como ase que chamamos simbolicamente de osu, porque osu propriamente dito se chama a mecha de cabelo que se tira da cabeça para colocar o ase. Tudo que se reúne para preparar o ase tem uma finalidade, um fundamento, uma explicação para que serve e uma história pertencente a um denominado Odú. O ori é a parte mais importante existente em nossa ara (corpo), a nossa sobrevivência depende dele, daí o grande perigo que a gente se submete, quando alguém vai fazer uma obrigação em nosso ori; esse alguém poderá nos matar ou desgraçar para o resto da vida, por perversidade, vingança, inveja ou mesmo inconscientemente, bastando para tanto, que tenha mão de Aje ou de Iku, daí se ter uma cautela fora do comum. Somente uma pessoas deve mexer em nosso ori, isso depois da própria divindade dizer se aceita, em cabeça ou na prática divinatória ou o próprio ori dizer o mesmo, também na prática divinatória. O ori (ase) nunca morre e quando o ara (corpo) morre o nosso ase se junta ao que se chama egun (alma), daí após a morte, antes do sepultamento se fazer a obrigação de "firar o osu", com a finalidade de libertar a divindade e desse ase que estava precedendo-a no ara do falecido, isso se a divindade não ficar para ajabo (adoração), caso contrário fica com o egun, que nos momentos em que está fazendo a obrigação ele é mandado, acompanhado de cânticos, para o igbo igbale, mais conhecido somente por um dos dois nomes não assentado para trabalhar e ser adorado. Em certos casos o ori de uma pessoa passa ser herança de outra, quando o seu dono morre, aí além da cerimônia já falada, faz mais outra, conhecida como passar o ase (ori) de corpo a corpo, essa obrigação é feitra nos dois ori, do defunto e do herdeiro.
Ori é mesmo que um orisa e se comporta como tal, inclusive fala na prática divinatória. |Em nosso ori vive nosso orisa, que é "lavado, assentado ou feito". Só existe um único caso em que ninguém pode colocar a mão no ori de outra pessoa, para fazer qualquer coisa e muito menos "fazer o santo": é quando a pessoa é olori merin, isto é, a pessoa tem a cabeça pertencente a quatro donos, em pé de igualdade. Esses quatro orisa juntos formam um só orisa e a pessoa á chamada olori merin, mesmo assim eles mantém sua individualidade. Se pudesse fazer alguma coisa, teria que ser feita para cada um isoladamente. as divindades que formam o olori merin são Sangô, Ifa, Osala, Oduduwa. Os preconceitos do olori merin são muito complexos e cheios de fundamentos.

O ritual ou oro, se preferir o termo iorubá ou popular obrigação, é reclamada pelas divindades, quando não são feitos na época propícia ou quando elas pedem, podendo ser públicos ou privados. Um dos principais desses rituais é o sacrifício de "bichos-de-pena"(aves) e o de "bicho-de-quatro-pés" ( quadrúpedes), que vai desde um grande boi à um frágil preá. Esses sacrifícios que são feitos debaixo do mais rigoroso e demorado ritual, geram à noite, as famosas "festas do barracão ", com uma série de rituais públicos, como é o caso das festas de Osala, que começam numa sexta-feira, com o ritual chamado Água de Osala, vindo em seguida o Primeiro Domingo de Osala, onde Osala comparece e é saudado, dançando ao som de cânticos ], logo após sua chegada e depois de paramentado.
No Segundo Domingo de Osala se realiza o ritual chamado Procissão do Ala, quando Osala retorna ao seu pepele, em procissão debaixo de um ala. Finalmente o Terceiro Domingo de Osala é chamado de dia do Pilão de Osala, onde ele distribuiu suas comidas aos presentes.
O ciclo de festas de Sangô, deus do fogo e do trovão compreende doze dias, tendo início com o ritual chamado Fogueira de Ayra, seguindo-se no dia seguinte os rituais do Ajere e do Akara, para depois vir o Eta odun Sangô) e finalmente a procissão de Iya Mase, encerrando o seu cíclo de festas. Iya Mase, também conhecida como Dada e Bãyánní é a sua mãe. Seu pai Oranyan foi rei de Oyo. Na Nigéria existe em praça pública, em tamanho gigante, o seu opa (cajado), o qual ao que se saiba, no Brasil, só existe na Bahia em tamanho menor, em um terreiro antigo. No Brasil, a grande festa de Sangô de faz na Bahia, no Ase Opo Afonja, para Sangô Afonja, onde ainda se mantém as mais antigas tradições referentes a Sangô, muito especialmente Sangô Afonja, onde até uma saudação muito antiga e familiar em Oyo (29). Afonja ewe gbe mi bale koso (Afonja, chefe de Koso, a folha me sustenta) se mantém na memória do povo do Ase Opo Afonja. A respeito desse oriki e das festas de Oba Afonja, Vivaldo da Costa Lima publicou a plaqueta. Uma festa de Xangô no Opô Afonja, onde detalha com mais minúncia e referidas festa (31).

Para Osun se faz um ritual com todas as suas comidas chamado Ipete, que é uma das comidas principais de Osun, feita à base de inhame ao lado da chamada omunuku que é nada mais nada menos do que um ebo que Ifa tirou para Osun Ipetu se ver livre de Aje, da';i ao se fazer o seu ritual, saudá-lo dizendo O fi eyin Aje se omunuku (ela cozinha os ovos de Aje com omunuku). Omunuku é a comida da morte, com a qual deveria destruir Aje.
Assim como um ritual com um ser humano, às vezes começa com o seu nascimento, do mesmo modo ocorre com o seu falecimento, com as cerimônias de "tirar o osu", se for o caso, juntamente com o banimento do egun (alma) no meio das pessoas vivas e as divindades e coisas sagradas. Esse banimento pode ser feito de duas maneiras, sendo uma mais simples, para "não deixar o egun de pé", feita num só dia, muitas vezes sem toques ou danças de barracão, concluindo com a saída do "carrego", posto longe da área sagrada. Esse ritual é feito para as pessoas pertencentes àquele terreiro, como também para as que não pertencem, mas que tiveram a mão na cabeça das pessoas ou ingerência nas coisas sagradas e divindades. Esse ritual que é feito para "tirar o pé" ou "limpar o rastro" do finado é chamado kase (que quer dizer o que terminou, o finado). O outro tipo de banimento é mais complexo, faz-se todo um aparato litúrgico, inclusive com sacrifício de um animal quadrúpede que no Brasil se usa somente agutan (ovelha). A essa cerimônia chamam de axexê que é uma corruptela de ajeje (32), nome específico dado à trouxa das coisas que sai para ser posta fora. O axaxê como o pade sempre foram rituais feitos pelos descendentes religiosos do reino de Ketu, dos caçadores do qual Ososi foi seu rei, tanto assim que até hoje está presente no canto que inicia o axexê.

 


Axexê (ajeje) oni bo juba O axexê é hoje e eu me curvo
coro coro
Axexê axexê omo de O Axexê, o axexê do varado caçador.

Axexê Olorun Baba o Axexê, ó Deus Pai
coro coro
Axexê, axexê omo ode O axexê, o axexê do varão caçador.
Perdeu-se a noção de muita coisa, inclusive a do animal sacrificado que ficou sendo agutan para todo e qualquer ritual fúnebre, quando o animal utilizado no ritual do axexê é o agbonrin (antílope), daí ser ele ewo (coisa proibida) de muitos Odù. Entrre as pessoas de procedências religiosa fon, processa-se de maneira um tanto diferente, inclusive chamam ao ritual azeri, corruptela de zeli, significando pote de barro, sobre a abertura da qual se bate comum abano (33). Esse pote, transformado num instrumento musical de percussão, é usado exclusivamente para ritual fúnebre.
Também chamam ao ritual de sirrun, que é corruptela de sinhoun, de sin, água e houn, tambor, em virtude desse instrumental ser constituídode um alguidar de barro com água e dentro dele uma banda de cabaça emborcada, sobre a qual se faz o toque.
Atualmente no Brasilexiste o culto de Egungun (culto dos ancestrais), com sede na Bahia, na Ilha de Itaparica, onde havia vários terreiros, alguns dsaparecidos. Havia o Terreiro de Vera Cruz dirigido por Tio Serafim, o Terreiro do Mucambo por Marcos Pimentel, o Terreiro do Tuntun, por Marcos Teodoro Pimentel, filho de Marcos Pimentel, também conhecido por Marcos, o Velho, o Terreiro da Encarnação, que tria sido dirigido por um filho de Tio Serafim. Já em salvador, na Estrada das Boiadas existiu o Terreiro do Corta-braço, dirigido por Tio Ope. Fala-se no terreiro da preguiça e em outras localidades onde se invocavam egun, como na Quitandinha do Capim, no Bairro de Santo Antônio, onde haviam alguns candomblés de orisa, dirigidos por africanos, no Matatu, em Água de Meninos e no Rio Vermelho de Baixo, hoje conhecida como Avenida Vasco da Gama. Atualmente em funcionamento, existe o terreiro Ile Baba Agboula, em dissidência fundou o Ile Oya na área onde foifundado o antigo Terreiro de Tuntun, isso em homenagem a Oya pada, dona de sua cabeça. O local fica onde hoje se chama Barro Branco. No começo foi construído numa área bem à margem da rua, depois foi transferido mais para dentro, bem no local das ruínas do antigo Terreiro de Tuntun, ficando o barracão à margem da rua para os ritos de orisa. Hoje o terreiro é dirigido por seu filho Tolentino Daniel de Paula Oje fagbohún (Oje fa gbohún, o Oje que traz o eco, o termo eco está se referind a voz do egun). Na Bahia se ouve muitas histórias sobre os eguns, inclusive com referências ao seu aparecimento na terra. Conta-se que de certa feita um Alapini compareceu diante do Alafin Oyo, dizendo-lhe que se desejasse falar com seus antepassados, ele os faria retornar ao mundo dos vivos e dialogar com ele. Não acreditando na história, deconfiando estar sendo ludibriado, o Alfin Oyo o mandou embora, pondo uma pedra de esquecimento sobre o que ouvira.

Passando bom tempo, o Alipini, que era desses renitentes, voltou à presença de Alafin Oyo, com os mesmos argumentos, porém agora, com mais ênfase e firmeza. O Alafin Oyo a princípio não o reconheceu, mas a segurança e argúcia com que entrou no assunto, deu margem a que o Alafin Oyo o ouvisse até o fim. Incrédulo, disse não acreditar naquela história e não se interessava.

Insistiu o Alapini, dizendo-lhe que lhe bastavam três

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